QUINCAS BERRO D'ÁGUA na TV
NA FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/2010
Artigo de CONTARDO CALLIGARIS
(ampliação clicando no artigo)
Escrito ao Sr. Contardo
(...) sobre os outros ao redor.
É possível que nunca estejamos preparados para recebê-los e tê-los, por fim, ao redor; e nem mesmo para rodeá-los e pertencer-lhes.
Bastarmo-nos, pois, seria imprescindível para tal empreitada e, por isso deve soar libertário descobrir-se consigo próprio e, enfim, só e descansado, entendendo que “os outros” – embora alentadores – verdadeiramente causem cansaço.
Fato é que, uma vez sozinhos, raramente esquadrinhamos tal solitude e terminamos por buscar novamente e sempre, ainda que discretamente, aos outros.
Mergulhar no próprio universo exige uma assunção quixotesca da própria figura, ainda que a mesma, orgulhosamente, triste se apresente. Exige mesmo uma crença inabalável na força da magreza pessoal, intransferível e, aos próprios olhos, inexpugnável... e talvez por isso, mesmo morto, o velho Quincas persista absurdamente vivo!
E há de ser descartado o que não seja um perigosíssimo encantador ou um gigante de longos braços; ainda que o mundo inteiro julgue não vê-lo por acreditá-lo tão somente um moinho de vento (ou uma picuinha).
O gigante opressor depõe contra a própria vida e deve ser combatido, ao menos pelo bravo que entenda a si próprio como algo próximo de um engenhoso fidalgo.
Que avance, pois, o portentoso e esquálido Roncinante! (E, aqui, a carga dramática é proposital!... para se rir intimamente com a própria saga...)
Não seria o viver mais intenso, então, buscar aos gigantes e embater-se com eles, ainda que mais pareçam migalhas de amendoins ou moinhos de vento?...
Embater-se com cada um deles seria o que melhor traduziria o que há de mais intenso no correr dos dias e, tanto o Señor Alonso quanto o velho Quincas, sabiam (e hão de continuar sabendo) bem disso...
O viver plenamente – ou a colheita diária – é algo intimamente dinâmico; algo que exige do âmago inquieto que se busque diariamente as aventuras em prol de heranças e conquistas, e dos préstimos das sem par em beleza, Senhoras Dulcinéias del Toboso; para que, enfim, seja sim, cada momento único e intenso e sempre suscitando uma nova busca instigante.
De fato, viver intensamente deve ser algo lá próximo dA Morte e A Morte de Quincas Berro d’Água, lá pros lados de La Mancha...
Abraços
Um comentário:
Ler-te...
Hummmm... Haaaa... Que maravilha!
Perece-me bula de pensamentos que o universo não consegue descrever.
Felicidade plena vê-lo de volta as escritas.
És mestre das palavras, tens em te um Quixote... um gigante...
abraços em suspiros
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