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terça-feira, 8 de abril de 2014

A amarga canção de mais um dia - outra vez


No 
Blog da LAURA CAPRIGLIONE
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Réquiem por um menino

Por Laura Capriglione | Laura Capriglione – 2 horas 25 minutos atrás
(Foto: Reprodução / Facebook)

Rua Terra Brasileira. Quebrada da Cidade A.E. Carvalho, zona leste de São Paulo, madrugada de sábado. No chão do baile funk, ficou o corpo do menino Lucas Oliveira Silva de Lima, 18, o Rei do Rolezinho. O delegado José Lopes, do 64º DP, diz que o garoto morreu espancado. “Traumatismo craniano causado por instrumento contundente.”
O “Cocão, menino do morro”, como se denominava, tinha 57.480 seguidores no Facebook, a maioria garotas. Era um ídolo. Orgulhoso, assumia suas origens. Escola: Favela. Moradia: Itaquera, zona leste.
Em janeiro, Lucas tornou-se celebridade, depois de organizar um rolezinho no Shopping Itaquera, vizinho de sua casa, na favela da Vila Campanela. Três mil adolescentes participaram, cantando as letras desafiadoras do funk. A polícia interveio com bombas de gás.
O pai, pedreiro, levava o moleque para trabalhar com ele. Mas Lucas também tirava uns trocados atuando como estoquista. Adepto da estética do funk ostentação, o dinheiro ganho comprava roupas de grife. Bermudas, só as da Oakley. O imenso relógio dourado no pulso era da marca Invicta. Nos pés, tênis Adidas. As camisas preferidas eram de tipo pólo, da Ralph Lauren.
Tirando o rolezinho de janeiro, nunca o Cocão foi de frequentar DPs. As professoras da Escola Estadual Milton Cruzeiro, onde estudou, dizem que o aluno era um cara tranquilo. O objetivo agora era tirar a habilitação, para dirigir uma nave, quem sabe um Camaro, imenso esportivo da Chevrolet, o sonho de consumo de dez entre dez meninos da periferia. Toda noite dava um salve pros amigos, e iam fumar um “narga” (narguilé).
Mas essa tal nova classe média morena e quase favelada, assim, desejando, comprando, consumindo, frequentando shoppings tem inimigos raivosos. Na página de Lucas no Facebook e no Twitter esses desafetos comemoraram a morte dele com centenas de posts. Algumas amostras:
“Lucas Lima foi fazer um rolezinho no inferno com Satanás.”
“Agora os lojistas dos shoppings podem trabalharem [sic] em paz , um marginal a menos!”
“Essa peste já foi tarde!! Vai fazer rolezinho com o capeta!
“Menos um fdp na sociedade.”
“Lucas Lima, favela e o caralho! Lixo, o diabo que te leve.”
Os amigos pretendem responder aos ataques com uma grande homenagem ao Lucas, que gostava tanto das grifes caras e de tomar um lanche no McDonald’s. Onde mais? No Shopping Itaquera, onde o garoto nasceu para a fama e glória ao consumo. E prometem, como réquiem, cantar a música do Mc Leeleko que diz:
“Agora eu sou de outro nível, só quero viver sorrindo
Se você virou a página eu queimei o livro
Esqueci todos os problemas ser feliz esse é o lema
Então senta e chora que eu tô tomando a cena
Exalto sou periferia, sou cria desde pequeno
Pra chegar até aqui passei por muito veneno (vai vendo
Me sentia o bambambam, de carrinho de rolimã
Meu pai é meu diamante minha mãe é meu talismã
Eles viram o meu sofrimento, viu toda minha caminhada
De rolimã pra catraca, depois as rodas cromadas (e agora?)
Vai vendo até um apê na praia, moto 1100 cilindradas
Sucesso pelo estado explodindo pelas quebradas.”

É. O rolezinho continua.


LAURA CAPRIGLIONE 

Laura Capriglione, 54, é jornalista. Nasceu em São Paulo e cursou Física e Ciências Sociais na USP. Trabalhou como repórter especial do jornal “Folha de S.Paulo” entre 2004 e 2013. Dirigiu o Notícias Populares (SP), foi diretora de novos projetos na Editora Abril e trabalhou na revista “Veja”. Conquistou o Prêmio Esso de Reportagem 1994, com a matéria “Mulher, a grande mudança no Brasil”, em parceria com Dorrit Harazim e Laura Greenhalgh. Foi editora-executiva da revista até 2000.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

"...em país cujo sistema jurídico aceita ladrões nas altas cúpulas do governo, seria discriminação não aceitar ladrões na rua."

O Brasil segue desevolvendo-se; ou melhor, crescendo(?...) enquanto um país que desaba nos buracos que cava todo santo dia.
E, como diria vovó Tereza, por pura "severgõíce".


Mais um tirste bom motivo para se lamentar o cego comodismo festivo que grassa o país.
Ótimo o artigo no blog do Janer Cristaldo, sobre "flanelinhas" e colarinhos:

Segue o artigo:

"Sábado, Setembro 25, 2010


EXTORSÃO LEGALIZADA

O regime cubano divulgou ontem lista de 178 profissões que poderão ser exercidas pela iniciativa privada na ilha. Entre elas, estão atividades como descascador de frutas naturais, consertador de guarda-chuva e penteador de tranças. Ou seja, descascar frutas, consertar guarda-chuvas e pentear tranças eram ofícios que não podiam ser exercidos por um cidadão qualquer que não fosse funcionário público. Nada de espantar em um regime em que um restaurante não pode servir mais de doze pessoas e uma barbearia não pode ter mais de três cadeiras.


Isso que Fidel Castro, em gesto de extrema generosidade, havia liberado os restaurantes particulares que funcionavam clandestinamente em Cuba. Mas, para que não concorressem com os restaurantes públicos, só podiam servir até uma dúzia de pessoas por vez, não podiam vender carne de boi nem mariscos e estavam sujeitos a altos impostos. No paraíso proletário, tudo deve ser feito para que ninguém corra o risco de enriquecer.


Dia 13 de setembro passado, a ditadura anunciou que ao menos 500 mil funcionários estatais de Cuba serão demitidos até março de 2011. As regras permitirão que 250 mil cubanos passem a trabalhar por iniciativa própria. Traduzindo: o Estado cubano descobriu que não dá pé manter empregos de mentirinha só para dizer ao mundo que em Cuba não há desemprego.


Enquanto Cuba tenta chegar ao século XX – já nem falo ao XXI – o Brasil regulamenta profissões inúteis. Aliás, nisto somos pródigos. O Brasil é um dos raros países que conheço onde existem ascensoristas. Como se quem usa um elevador fosse incapaz de apertar um botão. Onde existem também cobradores nos ônibus. Pior ainda: quando se introduziram catracas nos ônibus de São Paulo, os sindicatos protestaram e mantiveram os cobradores. Hoje, você tem catracas e mais um cobrador, que olha você colocar seu tíquete na catraca. Ou aproveita seu ócio para dormir.


Leio no Estadão que, por R$ 51 mensais, um sindicato em São Paulo oferece "segurança jurídica", uniformes, cadastro e registro profissional em carteira de trabalho para flanelinhas da capital. No vácuo da ausência de regras municipais, a entidade, que abriu as portas ao público em agosto, tem como respaldo uma lei federal de 1975. A promessa é de que o associado nunca será preso se apresentar o registro de "guardador e lavador de veículos automotores".


Ou seja: a extorsão está legalizada em São Paulo. Por 51 reais, está garantido a qualquer vagabundo extorquir seu dinheiro. Caso você não pague, terá o carro riscado ou os pneus furados. São ameaças que não me atingem. Não tenho carro, nunca tive. Primeiro porque não gosto de carro. Segundo, porque com carro não se vai longe. Um outro motivo são os flanelinhas. Às vezes, de carona com algum amigo, somos atacados por um desses extortores. Minha vontade é de enfiar-lhe uma bala na testa. Ainda bem que tampouco tenho revólver.


Flanelinha é assaltante. Que país é este em que se regulamenta a profissão de assaltante? Onde há um sindicato de assaltantes? A carteira de flanelinha é obtida pela assessoria jurídica do sindicato na Delegacia Regional do Trabalho – diz a notícia –. Cerca de 200 cadastrados aguardam a emissão do registro. Em menos de dois meses, oito flanelinhas já conseguiram. Dois deles trabalham para cerca de 30 clientes fixos na esquina das Ruas Estados Unidos e Haddock Lobo. Outros dois atuam na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, perto do Ginásio do Ibirapuera.


Segundo o advogado do sindicato, "a profissão é legal e prevista em lei. Eu vou na delegacia e retiro qualquer associado nosso que for autuado na rua". Ele carrega em sua pasta o registro sindical da entidade, emitido em outubro de 2007 pelo Ministério do Trabalho, e uma cópia encadernada da lei do senador Eurico Rezende, que há 35 anos tornou legítima a profissão de guardador de carros. O sindicato estima que a capital tenha 15 mil flanelinhas. O objetivo é regularizá-los por regiões.


Não tenho carro, dizia. Mas me indigno pelos que têm. Você paga à Prefeitura para estacionar e além disso tem de pagar ao vagabundo para não ter o carro danificado. A lei confere ao assaltante o direito de assaltar. Pior que tudo, os proprietários de carros aceitam passivamente a extorsão, como se assaltar fosse direito líquido e certo de quem quer que se habilite ao ofício.


Enfim, em país cujo sistema jurídico aceita ladrões nas altas cúpulas do governo, seria discriminação não aceitar ladrões na rua."


- Enviado por Janer @ 11:31 PM
(http://cristaldo.blogspot.com/)