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Blog da LAURA CAPRIGLIONE
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Réquiem por um menino
(Foto: Reprodução / Facebook)
Rua Terra
Brasileira. Quebrada da Cidade A.E. Carvalho, zona leste de São Paulo,
madrugada de sábado. No chão do baile funk, ficou o corpo do menino Lucas
Oliveira Silva de Lima, 18, o Rei do Rolezinho. O delegado José Lopes, do 64º
DP, diz que o garoto morreu
espancado. “Traumatismo craniano causado por instrumento
contundente.”
O “Cocão, menino do morro”, como se denominava, tinha 57.480
seguidores no Facebook, a maioria garotas. Era um ídolo. Orgulhoso, assumia
suas origens. Escola: Favela. Moradia: Itaquera, zona leste.
Em
janeiro, Lucas tornou-se celebridade, depois de organizar um rolezinho no
Shopping Itaquera, vizinho de sua casa, na favela da Vila Campanela. Três mil
adolescentes participaram, cantando as letras desafiadoras do funk. A polícia
interveio com bombas de gás.
O pai,
pedreiro, levava o moleque para trabalhar com ele. Mas Lucas também tirava uns
trocados atuando como estoquista. Adepto da estética do funk ostentação, o
dinheiro ganho comprava roupas de grife. Bermudas, só as da Oakley. O imenso
relógio dourado no pulso era da marca Invicta. Nos pés, tênis Adidas. As
camisas preferidas eram de tipo pólo, da Ralph Lauren.
Tirando o
rolezinho de janeiro, nunca o Cocão foi de frequentar DPs. As professoras da
Escola Estadual Milton Cruzeiro, onde estudou, dizem que o aluno era um cara
tranquilo. O objetivo agora era tirar a habilitação, para dirigir uma nave,
quem sabe um Camaro, imenso esportivo da Chevrolet, o sonho de consumo de dez
entre dez meninos da periferia. Toda noite dava um salve pros amigos, e iam
fumar um “narga” (narguilé).
Mas essa
tal nova classe média morena e quase favelada, assim, desejando, comprando,
consumindo, frequentando shoppings tem inimigos raivosos. Na página de Lucas no
Facebook e no Twitter esses desafetos comemoraram a morte dele com centenas de
posts. Algumas amostras:
“Lucas
Lima foi fazer um rolezinho no inferno com Satanás.”
“Agora os
lojistas dos shoppings podem trabalharem [sic] em paz , um marginal a menos!”
“Essa
peste já foi tarde!! Vai fazer rolezinho com o capeta!
“Menos um
fdp na sociedade.”
“Lucas
Lima, favela e o caralho! Lixo, o diabo que te leve.”
Os amigos
pretendem responder aos ataques com uma grande homenagem ao Lucas, que gostava
tanto das grifes caras e de tomar um lanche no McDonald’s. Onde mais? No
Shopping Itaquera, onde o garoto nasceu para a fama e glória ao consumo. E
prometem, como réquiem, cantar a música do Mc Leeleko que diz:
“Agora eu
sou de outro nível, só quero viver sorrindo
Se você virou a página eu
queimei o livro
Esqueci todos os problemas
ser feliz esse é o lema
Então senta e chora que eu
tô tomando a cena
Exalto sou periferia, sou
cria desde pequeno
Pra chegar até aqui passei
por muito veneno (vai vendo
Me sentia o bambambam, de
carrinho de rolimã
Meu pai é meu diamante minha
mãe é meu talismã
Eles viram o meu sofrimento,
viu toda minha caminhada
De rolimã pra catraca,
depois as rodas cromadas (e agora?)
Vai vendo até um apê na
praia, moto 1100 cilindradas
Sucesso pelo estado
explodindo pelas quebradas.”
É. O
rolezinho continua.
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