domingo, 15 de novembro de 2015

Rio Doce - Escaninhos de uma tragédia ambiental


TESTEMUNHOS
em: http://riodoce.help/

“Hoje tive dois encontros bastante emocionantes. De manhã, uma nova amiga de Valadares, Leticia, me levou para o leito do rio doce onde conhecemos Vicente, um ribeirinho nascido aqui há 47 anos. Vicente topou levar a gente de canoa pelo trecho do rio onde dava para transitar. Depois da chuva que caiu por aqui ontem, a água lamacenta está menos espessa – o que infelizmente não é um notícia tão motivadora, volta e meia ficávamos presos no fundo e começava a missão para conseguir sair. Para um rio da proporção do Doce, ficar encalhado no meio dele é o sinal claro do estado precário em que está. Isto já vem de antes da tragédia com as barragens da Samarco/Vale: desde 2009, com a construção da usina hidrelétrica de Baguari, o nível da água reduziu drasticamente. Vicente me contou como estão desolados os moradores que vivem nas margens do Rio, muitos deles que pescavam para comer ou para vender o peixe e ter a renda do dia. Não há mais nenhum peixe no Doce em Governador Valadares. Os animais estavam na época de reprodução, e encontraram com a lama subindo o leito do Rio. Quando a lama chegou, os habitantes da cidade viram os peixes em centenas descendo mortos. Além da lama, uma mancha escura e brilhosa desceu com a corrente, eram os restos do minério. Em meio às pedras da parte central do rio, ainda restam peixes mortos com as bocas abertas mostrando que buscavam até o final o oxigênio roubado de sua água. Todos os habitantes de Valadares que encontrei contam de como a situação do Rio os fez chorar em casa. Foi ao ver esta cena dos peixes que senti forte a dor do horror. Primeiro choro. Agora à tarde, um amigo me levou até região Krenak, distante cerca de 130 km de Valadares. No caminho, vimos as gigantescas composições de minério da Vale paradas na ferrovia. Mais a frente, a resistência ao progresso da máquina: dezenas de índias e índios. Mulheres, homens, crianças e idosos mantendo firme o propósito de só sair de cima da ferrovia quando a mineradora responder às suas necessidades mais básicas. Os Krenaks estão sem água, mas também sem parte de seus espíritos. A relação indígena com a natureza vai além dos usos pragmáticos. No bloqueio conheci Giovani Krenak, um jovem articulado e motivado pela luta. Ele me contou a luta centenária de seu povo contra a indústria da mineração responsável pela sua quase dizimação. As desavenças com as mineradoras – sobretudo a Vale em todas as suas fases – passam pela construção da ferrovia, pela ditadura militar, pela renovação do trem de passageiros da linha Vitória x Belo-Horizonte e agora pela morte do Rio que abastece material e espiritualmente sua aldeia. Os Krenaks tem uma música para o rio entre seus cantos. Pedi para Giovani cantá-la para mim. Quando ia cantar, ele olhou para o rio e com voz embargada disse que não conseguiria. É uma música que fala sobre os peixes, as águas limpas e a beleza, tudo o que foi tirado do Rio Doce pela maior inimiga do povo Krenak. Segundo choro.”




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“Esta sopa de lama tóxica que desce no rio Doce e descerá por alguns anos toda vez que houver chuvas fortes e irá para a região litorânea do ES, espalhando-se por uns 3.000 km2 no litoral norte e uns 7000 km2 no litoral ao sul, atingindo três UCs marinhas – Comboios, APA Costa das Algas e RVS de Santa Cruz, que juntos somam uns 200.000 ha no mar. Os minerais mais tóxicos e que estão em pequenas quantidades na massa total da lama, aparecerão concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez uns 100 anos. RVS de Santa Cruz é um dos mais importantes criadouros marinhos do Oceano Atlântico. 1 hectare de criadouro marinho equivale a 100 ha de floresta tropical primária. Isto significa que o impacto no mar equivale a uma descarga tóxica que contaminaria uma área terrestre de de 20.000.000 de hectares ou 200.000 km2 de floresta tropical primária. E a mata ciliar também tem valor em dobro. Considerando as duas margens são 1.500 km lineares x 2 = 3.000 km2 ou 300.000 ha de floresta tropical primária. Voces não fazem ideia. O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da região sudeste e o eixo de ½ do Oceano Atlântico Sul está comprometido e pouco funcional por no mínimo 100 anos! Conclusão: esta empresa tem que fechar. Além de pagar pelo assassinato da 5ª maior bacia hidrográfica brasileira. Eles debocharam da prevenção e são reincidentes em diversos casos. Demonstram incapacidade de operação crassa e com consequências trágicas e incomensuráveis. Como não fechar? Representam perigo para a segurança da nação! O que restava de biodiversidade castigada pela seca agora terminou de ir. Quem sobreviverá? Quais espécies de peixes, anfíbios, moluscos, anelídeos, insetos aquáticos jamais serão vistas novamente? A lista de espécies desaparecidas foram quantas? Se alguém tiver informações, ajudariam a pensar. Barragens e lagoas de contenção de dejetos necessitam ter barragens de emergência e plano de contingência. Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos? Qual a legalidade da licença para operação sem a garantia de segurança para a sociedade e o meio ambiente? Mar de lama… mas não seria melhor evitar que a lama chegasse ao mar? Quem teve a brilhante ideia de abrir as comportas das barragens rio abaixo em vez de fechá-las para conter a lama e depois retirar a lama da calha do rio? Quem ainda pensa que o mar tem o poder de diluição da poluição? Isto é um retrocesso da ciência de mais de 1 século!!!!! Sendo Rio Federal a juridição é do governo federal portanto os encaminhamentos devem serem feitos ao MPF. Fica a advertência para os olheiros das empresas: se essa coisa chegar ao mar o caso entra para juridição internacional. Lá tem prisão perpétua, pena de morte, sequestro de bens internacionais, etc.”
André Ruschi
Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi – Aracruz, Santa Cruz, ES 

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“São mais de 300 pessoas mortas, minha prima é ambientalista e faz parte de grupos sociais e tal, em Bento Rodrigues moravam 600 pessoas e nem todos saíram a tempo, mas como vivemos num país que todos seguem a mídia e sua máscara, mal sabem sobre a verdadeira realidade, que é extremamente pior que a exibida, apenas por ser tratar de 2 donos extremamente influentes de poder financeiro sem limites, tudo fica abaixo do pano.”
Leandro Kost


“Já trabalhei em mineração de estanho na Amazônia. Quando estive no local onde o minério é lavado (onde fica essa tal lama) achei por um momento que eu estava em um outro planeta. Aquilo é pior que areia movediça e não tem recuperação. Ali tive a certeza que nossos governantes não se importam mesmo. E Mariana só veio a tona por causa do desastre, mas e as outras mineradoras espalhadas pelo Brasil, que destroem todo dia uma parte do nosso ecossistema? Só é foco agora por causa do rompimento da barragem? Olhe a foto e tire suas conclusões, sobre um local que mesmo sem vazamento nenhum está destruindo lentamente toda a fauna e flora da região.”
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