quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Trechos


DECRETO Num. 1.171, DE 22 DE JUNHO DE 1994

Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal

"...Nenhum Estado pode crescer o estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação."
"A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-los."
"Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de soluções que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços públicos."
"Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas relações humanas."

(Extratos do CAPÍTULO I - Seção I - DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS -- incisos VIII, IX, X e XII)



domingo, 15 de novembro de 2015

Rio Doce - Escaninhos de uma tragédia ambiental


TESTEMUNHOS
em: http://riodoce.help/

“Hoje tive dois encontros bastante emocionantes. De manhã, uma nova amiga de Valadares, Leticia, me levou para o leito do rio doce onde conhecemos Vicente, um ribeirinho nascido aqui há 47 anos. Vicente topou levar a gente de canoa pelo trecho do rio onde dava para transitar. Depois da chuva que caiu por aqui ontem, a água lamacenta está menos espessa – o que infelizmente não é um notícia tão motivadora, volta e meia ficávamos presos no fundo e começava a missão para conseguir sair. Para um rio da proporção do Doce, ficar encalhado no meio dele é o sinal claro do estado precário em que está. Isto já vem de antes da tragédia com as barragens da Samarco/Vale: desde 2009, com a construção da usina hidrelétrica de Baguari, o nível da água reduziu drasticamente. Vicente me contou como estão desolados os moradores que vivem nas margens do Rio, muitos deles que pescavam para comer ou para vender o peixe e ter a renda do dia. Não há mais nenhum peixe no Doce em Governador Valadares. Os animais estavam na época de reprodução, e encontraram com a lama subindo o leito do Rio. Quando a lama chegou, os habitantes da cidade viram os peixes em centenas descendo mortos. Além da lama, uma mancha escura e brilhosa desceu com a corrente, eram os restos do minério. Em meio às pedras da parte central do rio, ainda restam peixes mortos com as bocas abertas mostrando que buscavam até o final o oxigênio roubado de sua água. Todos os habitantes de Valadares que encontrei contam de como a situação do Rio os fez chorar em casa. Foi ao ver esta cena dos peixes que senti forte a dor do horror. Primeiro choro. Agora à tarde, um amigo me levou até região Krenak, distante cerca de 130 km de Valadares. No caminho, vimos as gigantescas composições de minério da Vale paradas na ferrovia. Mais a frente, a resistência ao progresso da máquina: dezenas de índias e índios. Mulheres, homens, crianças e idosos mantendo firme o propósito de só sair de cima da ferrovia quando a mineradora responder às suas necessidades mais básicas. Os Krenaks estão sem água, mas também sem parte de seus espíritos. A relação indígena com a natureza vai além dos usos pragmáticos. No bloqueio conheci Giovani Krenak, um jovem articulado e motivado pela luta. Ele me contou a luta centenária de seu povo contra a indústria da mineração responsável pela sua quase dizimação. As desavenças com as mineradoras – sobretudo a Vale em todas as suas fases – passam pela construção da ferrovia, pela ditadura militar, pela renovação do trem de passageiros da linha Vitória x Belo-Horizonte e agora pela morte do Rio que abastece material e espiritualmente sua aldeia. Os Krenaks tem uma música para o rio entre seus cantos. Pedi para Giovani cantá-la para mim. Quando ia cantar, ele olhou para o rio e com voz embargada disse que não conseguiria. É uma música que fala sobre os peixes, as águas limpas e a beleza, tudo o que foi tirado do Rio Doce pela maior inimiga do povo Krenak. Segundo choro.”




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“Esta sopa de lama tóxica que desce no rio Doce e descerá por alguns anos toda vez que houver chuvas fortes e irá para a região litorânea do ES, espalhando-se por uns 3.000 km2 no litoral norte e uns 7000 km2 no litoral ao sul, atingindo três UCs marinhas – Comboios, APA Costa das Algas e RVS de Santa Cruz, que juntos somam uns 200.000 ha no mar. Os minerais mais tóxicos e que estão em pequenas quantidades na massa total da lama, aparecerão concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez uns 100 anos. RVS de Santa Cruz é um dos mais importantes criadouros marinhos do Oceano Atlântico. 1 hectare de criadouro marinho equivale a 100 ha de floresta tropical primária. Isto significa que o impacto no mar equivale a uma descarga tóxica que contaminaria uma área terrestre de de 20.000.000 de hectares ou 200.000 km2 de floresta tropical primária. E a mata ciliar também tem valor em dobro. Considerando as duas margens são 1.500 km lineares x 2 = 3.000 km2 ou 300.000 ha de floresta tropical primária. Voces não fazem ideia. O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da região sudeste e o eixo de ½ do Oceano Atlântico Sul está comprometido e pouco funcional por no mínimo 100 anos! Conclusão: esta empresa tem que fechar. Além de pagar pelo assassinato da 5ª maior bacia hidrográfica brasileira. Eles debocharam da prevenção e são reincidentes em diversos casos. Demonstram incapacidade de operação crassa e com consequências trágicas e incomensuráveis. Como não fechar? Representam perigo para a segurança da nação! O que restava de biodiversidade castigada pela seca agora terminou de ir. Quem sobreviverá? Quais espécies de peixes, anfíbios, moluscos, anelídeos, insetos aquáticos jamais serão vistas novamente? A lista de espécies desaparecidas foram quantas? Se alguém tiver informações, ajudariam a pensar. Barragens e lagoas de contenção de dejetos necessitam ter barragens de emergência e plano de contingência. Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos? Qual a legalidade da licença para operação sem a garantia de segurança para a sociedade e o meio ambiente? Mar de lama… mas não seria melhor evitar que a lama chegasse ao mar? Quem teve a brilhante ideia de abrir as comportas das barragens rio abaixo em vez de fechá-las para conter a lama e depois retirar a lama da calha do rio? Quem ainda pensa que o mar tem o poder de diluição da poluição? Isto é um retrocesso da ciência de mais de 1 século!!!!! Sendo Rio Federal a juridição é do governo federal portanto os encaminhamentos devem serem feitos ao MPF. Fica a advertência para os olheiros das empresas: se essa coisa chegar ao mar o caso entra para juridição internacional. Lá tem prisão perpétua, pena de morte, sequestro de bens internacionais, etc.”
André Ruschi
Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi – Aracruz, Santa Cruz, ES 

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“São mais de 300 pessoas mortas, minha prima é ambientalista e faz parte de grupos sociais e tal, em Bento Rodrigues moravam 600 pessoas e nem todos saíram a tempo, mas como vivemos num país que todos seguem a mídia e sua máscara, mal sabem sobre a verdadeira realidade, que é extremamente pior que a exibida, apenas por ser tratar de 2 donos extremamente influentes de poder financeiro sem limites, tudo fica abaixo do pano.”
Leandro Kost


“Já trabalhei em mineração de estanho na Amazônia. Quando estive no local onde o minério é lavado (onde fica essa tal lama) achei por um momento que eu estava em um outro planeta. Aquilo é pior que areia movediça e não tem recuperação. Ali tive a certeza que nossos governantes não se importam mesmo. E Mariana só veio a tona por causa do desastre, mas e as outras mineradoras espalhadas pelo Brasil, que destroem todo dia uma parte do nosso ecossistema? Só é foco agora por causa do rompimento da barragem? Olhe a foto e tire suas conclusões, sobre um local que mesmo sem vazamento nenhum está destruindo lentamente toda a fauna e flora da região.”
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Trechos


"Crer que Deus se atenha a uma fórmula é emprestar-lhe a pequenez e as paixões da Humanidade."
(O Evangelho Segundo o Espiritismo)



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Trechos


Vila dos Confins 
Mário Palmério (1956)


(link para a imagem)

"O Carrapato apareceu de repente, brotado no meio do cerrado ralo. Uma, duas casas de telha. O resto, rancharia miúda de coqueiro buriti.
Nenzinho bateu na capota de aço da camioneta:
- É aquela casa ali, doutor. Às direitas - aquela com o cachorro na porta."

"Se a Vila dos Confins dava aquela primeira impressão de pobreza, o Carrapato lembrava miséria e abandono. Difícil topar, naquele fim de mundo deserto, coisa mais triste e mais sem vida.
O sol caía de ponta, brutal. Entorpecia e queimava tudo. A areia era polvilho de espelho socado no pilão. O ar, a gente podia vê-lo mover-se - lesma amarela, quente, pegajosa, a arrastar-se por sobre as ruas e telhados.
O deputado passou pelo cachorro deitado à porta da casa do Nenzinho. Todos os outros passaram, passou o dono também - e o pobre continuou fundido ali na areia borralhenta. Mal abriu e azarolhou os olhos embaçados e meio arregaçou as pelancas da boca. Mas antes não tentasse sorrir: comentário cruel do Aurélio..."
(link para a imagem abaixo)

















"Nenzinho falara e saíra para a rua. A mulher, calada, olhos fincados no chão; o Aurélio e o João Soares, cansados, sem assunto.
Pela janela aberta, Paulo via a rua; a fieira dos ranchos morria na cerca de pau roliço, tocos deitados, arrumados mal-e-mal. Pássaros... Não, aquilo nada tinha que ver com passarinho. Dois anuns agourentos, isto sim, trepados na caveira de boi fincada no moirão alto da porteira. A caveira estava ali para espantar a peste e o mau-olhado; mas aquelas duas assombrações - pretos os olhos, preto o bico, cabeça, asas, pés, tudo, tudo preto - inutilizavam o exorcismo. Fiasco de caveira: piavam agora os dois agourentos, como que chamando pela morte, perdidos de saudades dela. Não, anum não era passarinho: assombração mesmo, como os morcegos.
Encostados à cerca, os bois de carro cumpriam castigo, atrelados dois a dois, muda fila imóvel em frente ao cargueiro de sal; babavam, babavam... - quem sabe se a baba apagava o fogo que lhes subia pelas pernas, vindo do braseiro do chão!"

"(...)o sol multiplicando-se em cada um dos grão de malacacheta moída da areia da rua, para mais abrasar, mais centelhar, mais castigar. E, bem em frente à janela, os guarda-chuvas invertidos das folhas secas do mamoeiro, o pendurado frouxo da meia-duzia de mamões encardidos - pelancudos quem nem peitos de índia velha."

"Um bater de aflito de asas chamou a atenção do deputado. Era o frango índio, com o talho fundo no pescoço de penas arrancadas, pingando sangue no prato de folha. A crista branca, descarnada, as pernas ainda pedalando soltas... Frango ao molho pardo! Não havia escapatória: teria mesmo de agüentar aquele horror do Carrapato até a tardinha..."

(...) O capetão sapateava no cocoruto da cabeça, pulava da nuca para a sobrancelha, num pulo só. Não, não era apenas um: eram muitos os demônios - demônios machos, demônios fêmeas; e se agarravam, casais trocando-se, derrubando-se: bêbados, bêbados, a fazerem desatinos por cima da fofice dos miolos. Rápidos, espojavam-se, esfregavam-se, e daquela sem-vergonheira nasciam enxames de capetinhas - já de rabo, já peludinhos, de chifre e fogo nos olhos. Por isso o zumbido de abelha arapuá nos ouvidos. O corpo inteiro, agora - a capetada descera pelas veias, talvez pelos corrimãos dos nervos - as costas, as pernas, as solas dos pés: tudo pegando fogo... O sangue queimava, corria em labaredas... tudo ardia, estralava, sacudia, ameaçando desabar. Bombeiro, bombeiros! O tio Aurélio, de capacete, de óculos, mangueira comprida na mão; João Soares, Seu Iziquia, Seu Candinho... O novato sempre falante, dava ordens, comandava: "- Água benta, gente! Água benta!" Água benta, fria, gelada, escorrendo pelos cabelos,  pela cara, pelas costas. Friagem de gelo - mas os demônios fugiam! (...)girando de baixo pra cima: todo mundo de ponta-cabeça, sem cair: as panelas, o leite, o requeijão - até o frango índio de pescoço pelado, e o prato cheio de sangue. Força centrífuga."

"Quando o tio Aurélio gritou, já era tarde: o sobrinho caía de lado, as costas perdidas do apoio da quina do assento. O corpo escorregou e rolou, e Paulo despencou-se de bruços, batendo com a cara no chão de terra da cozinha." 

=== xx ===

Trechos dos capítulos 5 e 6 (São Paulo: Abril Cultural, 1983)
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